segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cola em bastão


Se eu já protelei e pensei que um momento jamais iria chegar, é esse. Demora que não se deve tão somente à desnecessidade de ser ouvida, mas também ao excesso (?) de ocupação. Não que agora não esteja, muitíssimo pelo contrário, há muito o que ser feito, e com bastante urgência, mas alguns dias são memoráveis. Porém não vou escrever sobre memórias, porque nem o que vivi hoje me lembro com exatidão. Mas sinto que há algo a se dizer.
A primeira coisa que percebo é que já não escrevo como costumava. Agora, uma estranha impessoalidade invade as linhas e preenche o vazio das palavras.
E entre um espaço e outro, uma olhadela no e-mail, uma tentativa de organizar uma caixa de entrada sem salvação e de satisfazer à vontade de um espírito irremediavelmente sistemático. A última pasta a receber uma mensagem é descriativamente denominada Facebook. Fulano acabou de te adicionar.
Acho que ultimamente tenho sofrido de défcit de atenção. Não consigo me concentrar por muito tempo. Logo, logo perco o foco.
Isso deve ser um reflexo (ou uma mutação) dessas vontades que não duram, desses desejos que crescem rápido e morrem em uma velocidade muito maior. Não é uma angústia particular, sei que trata-se de algo coletivo, mas isso de sentir, ou melhor, de não sentir, se o que faço é o quero, ou o melhor, dói.
Dói porque envolve escolhas. E, que me perdoem os liberais, ter direito de escolha é, no mínimo, angustiante. Dói porque é viver uma vida que se questiona se a outra opção seria mais bem sucedida. Dói porque a outra alternativa parece óbvia agora que a outra já foi escolhida. Dói porque a vida é só uma e não dá pra voltar e escolher o outro final.
Deve ser por isso que constantemente me decepciono com livros, o final nunca costuma ser digno. Sempre me frustro. Digo, a vida sempre me frusta.
Depois desse momento de digressão, retorno ao facebook. Apertar "yes" pra todo "Accept?" que aparece me traz um certeza: tem gente que na virtualidade mais impessoal possível pra ser aceito na minha vida. Todo mundo parece tão dispensável, e não só parecem como são. É o tipo de relacionamento que a gente gruda na gente com cola em bastão, que é a pra ser fácil de tirar, não deixa marcas e parece que nunca esteve ali. Quem tem todo mundo acaba tendo ninguém. Ah, e o oposto é uma dádiva, a de ser impopular!

Quando meus posts não são de quinta, são de segunda. Quanta evolução!

Um comentário:

  1. adorei. :)

    e depois ainda vem falar que perdeu a capacidade de escrever... pode ser momentaneamente, é verdade. mas, esse tipo de dom não se perde assim tão fácil.

    ;*

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